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Solo do Pé, Plataforma da Dança, Escola Estadual Profa. Zilda Graças Martins de Oliveira, Guarulhos |
Nos “seminários de dança” do 27º Festival de
Joinville, apresentou-se um tema geral - dança e educação, na forma de vinte
perguntas sobre o tema.
A questão: Centros de formação: o que há
para além das academias? foi proposta-tema para uma conferência de mesmo
nome. Vamos a ela, na forma deste
texto-conferência, na qual o formato (de perguntas) proposto suscitou outras questões.
Qual academia ou academias?
Academia será tomada em dois sentidos:
escola de instrução superior (faculdade) ou instituto/agremiação artística,
particular ou oficial, onde são ensinados – produzidos e disseminados -
conteúdos organizados sobre o campo: as escolas de dança, muitas vezes nomeadas
“academias”, revelando-se, por esta denominação, uma sua origem que remonta à
“academia helênica”, onde o treinamento dos corpos em busca de saúde e
performance física era meta, ali não se configurando a procura da performance em arte.
As faculdades – cursos de graduação em dança
(bacharelado e licenciatura) e as escolas de dança (públicas ou privadas)
formam profissionais de dança, artistas
e professores.
Onde se centraliza a formação em dança?
A formação na arte da dança é realizada
desde muito cedo e em permanência, havendo períodos para uma formação
organizada, geralmente estruturada em séries, tanto nas graduações, quanto nas
escolas/academias.
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1 Escritora e ensaista,
é professora do Instituto de Artes/UNICAMP, onde atua na graduação/dança e
Pós-Graduação/Artes da Cena; pós-doutora/Artes (ECA/USP), doutora/Comunicação e
Semiótica (PUC/SP), especialista/Gestão & Políticas da Cultura (UNESCO,
Université de Dijon, Ministère de la Culture/France). Atualmente é consultora
do TEATRO DE DANÇA, programa da Secretaria de Estado da Cultura, SP.
No caso da universidade, diferentemente do
que ocorre em outras profissões, muitos dos alunos já chegam formados aos
cursos, constituindo-se em profissionais-alunos.
No sistema superior de ensino, isto não
acontece com os cursos de medicina, direito ou engenharia, que até hoje,
constituem um triunvirato de carreiras, um tripé de força que sustenta muito do
poder simbólico das instituições de ensino. São as carreiras clássicas,
sonhadas por muitos pais para seus filhos.
Um médico, um advogado ou um engenheiro
podem assim ser denominados, certificando-se sua formação, sem que tenham
passado pelos bancos de uma universidade? De forma alguma, mas bailarinos e
professores de dança, desde que desejem ensinar somente fora do ensino regular
(ensino fundamental e médio), podem.
Para além das universidades e escolas livres
estes profissionais se formam. De que maneira? Apresento possibilidades.
A primeira: nas companhias/grupos de dança,
para onde convergem profissionais e não somente. Para elas acorrem pessoas com
talento e vocação, que na nucleação de métiers e conhecimentos de que se
compõem estes locus, ali encontram oportunidade para a sua formação, na prática
da dança de todo o dia.
A segunda: a formação que se dá em
permanência nos circuitos da dança popular, onde os jovens e crianças “aprendem
a dançar dançando”, em meio a extensas famílias de “brincantes”, o mesmo
ocorrendo nos locais da dança de devoção
(por exemplo, terreiros de candomblé) ou
em danças cerimoniais de tribos indo-brasileiras.
Aos dois exemplos subjazem traços da
história das artes da cena, nas quais o aprendizado de um ofício está ligado à
economia interna de uma trupe nômade, como às da Idade Média e Renascença.
Nos séculos XIX e XX, se dará dentro da
estrutura seminômade de trupes que, obedecendo à lógica moderna, fixam-se em
centro urbano provedor de meios e modos de produção, para girarem em turnês.
Com a introdução das artes, entre elas a
dança, na academia/universidade artistas e professores formam-se dentro desta
“academia”, mas continuam a se formar para além dela, nos grupos/companhias de
dança, nas escolas livres e em núcleos enraizados na cultura popular.
Persiste a dicotomia, como realidade de um
campo e base para reflexão e ação constante entre todos.
Lógicas de formação? Duas ou três.
Abordemos outra dicotomia, em que se
polarizam lógicas: a da corte, na qual se gesta a dança que dá origem ao balé e
a da modernidade, em que se gesta a dança moderna/contemporânea, a partir da
qual se fundam a quase totalidade dos cursos de graduação de nosso país.
A lógica da corte, campo de origem da mais
conhecida das danças cênicas do ocidente – o balé, construída por rígida
hierarquia piramidal no topo da qual estão professores que centralizam
decisões, ações e conhecimento quase inquestionáveis, está presente na maior
parte das escolas livres, através do ensino da “técnica balé” que se aplica
longe da montagem, produção e difusão de espetáculos que lhe são historicamente
fundadores.
Cada uma destas escolas/academias pode ser
considerada uma filial do que denomino a primeira “multinacional da
cultura/arte” (NAVAS, 2006b) - o ensino do balé.
Uma multinacional estruturada de maneira
informal e por rápida e eficaz implantação, haja vista a estrutura de sua
modelização estar presente na figura (e memória corporal) de professores de
balé, espalhados pelos quatro cantos de um planeta de cartografia ampliada após
a segunda Guerra Mundial.
Em cada filial, à figura do professor
bastou, e ainda basta, acrescentar uma sala de aula, barras, espelhos,
piano/pianista ou aparelho para reprodução mecânica/digital de música ou
estudos musicais para aulas.
Através da extensa rede de escolas de “balé
clássico”, a formação fica ancorada à reprodução de estratégias de treinamento
corporal tout court a cargo de mestres
geralmente distantes do ato criativo em si, também unidade original dos grandes
balés de repertório.
A prática da dança despoja-se de estratégias
artísticas da invenção que lhe foram estruturantes, agregando-se-lhe de maneira
superficial os sonhos de construção de um ideal centralizado num tempo-espaço
europeu da segunda metade do século XIX. Os grandes festivais deste país são um
resultado desta história recente na área (NAVAS, 2005).
Operando com os registros da modernidade em
arte, aqueles que se lançam a inserir a dança como área de conhecimento na
universidade (NAVAS, 1992), o fazem sob a lógica da dança moderna, onde a
formação do intérprete-artista parte do pressuposto de sua individuação e
expressão num mundo que constrói por seu trabalho, conhecimento, atuação,
contribuição cidadã. A partir da moderno, a ênfase dada ao “corpo que dança”,
treinado cronológica e necessariamente desde muito cedo, matiza-se por
pressupostos de trabalho a partir do “self” do indivíduo que possui este corpo.
A dança na universidade fixa a estratégia da
modernidade em suas estruturas, apontando-se para a criação individual e para a
afirmatividade da dança de cada um, construída a partir da liberdade de criação
que se brande como espada para romper-se a subjugação fruto de uma estrutura
hierarquicamente centralizadora, onde poucos detêm o conhecimento transmitido
em processo de direção única: do mestre de balé aos discípulos.
Atualmente, depois de decorrido todo o
século passado, século XX, com as clivagens do moderno em pós-moderno e da
junção dos dois no onipresente
contemporâneo, encarado, duplamente por artistas e gestores, como a
eletricidade que alavanca o progresso da sociedade atual (NAVAS, 1999), não se
pode desconsiderar a conexão entre o discurso da liberdade criativa, que prega
o protagonismo de cada idéia, e de cada pedaço do corpo, e os pressupostos de uma especialização
extrema, que sob o discurso da liberdade esconde o advento da crescente
atomização de indivíduos e não a sua individuação.
Acopla-se ao sentido desta liberdade a sua
validação pelo poder burguês (ADORNO,
2009) em uma sociedade de trocas, onde o processo de autonomização tem função
específica junto ao mercado de consumo de bens
e serviços, o intenso processo nos conduzindo, no limite, à supressão da
autonomia.
Exemplo desta afirmação em dança
contemporânea: criações onde os conteúdos tratados dizem respeito a questões
muito individuais, atomizadas, posto que apartadas de interesses mais gerais,
quaisquer que sejam.
Tais obras ou excertos são validadas pelo
princípio da “total liberdade de
escolha”, e dizem pouco para a maioria dos que acorrem para assistir aos
espetáculos.
Embaladas pelo discurso da liberdade que se
expressa em raciocínios herméticos ou pela veneração de um “espírito do
contemporâneo”, que público e artistas devem compartilhar, de
preferência bem solitários, como “unidades de dança” começam a ser replicadas
entre pares de um determinado ambiente
cultural, e mediante processos imanentes
à globalização (NAVAS, 1999), entre artistas de vários países.
São como mesmos bens culturais que todos
produzem/consomem - dançam/assistem - sem cessar, produzindo, na “total liberdade”
que imaginam conjugar. São
danças-objetos de corpos-fetiches do consumo que, engolidas como pílulas,
poderiam nos levar ao nirvana contemporâneo do entendimento da arte e talvez da vida.
Todavia, há que se ressaltar que se isto
ocorre de forma tão desencarnada na dança contemporânea, não é um debate de
todo alheio à dança moderna.
Nela, o antagonismo entre “espírito do
mundo” (ADORNO, 2009) – pelo qual a universalidade forçosamente
paga tributo à padronização, levando-nos, no limite, à mediocridade dos bens
culturais - e “espírito individual” também se coloca como embate, sendo
perceptível na dupla consubstancialidade da criação como arte e mercadoria,
colocando-se os artistas face à tensão do duplo
desafio da arte e mercado.
O debate aponta também para as relações
entre livre arbítrio e determinismo (NAVAS, 2008) presente na arte da dança de
forma aguda, por conta da necessidade do treinamento diário do corpo por
estratégias que não poderão ser descartadas facilmente, a técnica que se
utiliza para a perfomance artística mais
apurada determinando as aléias da criação corporal.
Deste estado de coisas resta a sensação de
desconsolo frente ao impasse moderno/pós-moderno, em tempos onde o prefixo pós toma
parte de
vários vocábulos da crítica em arte, como
pós-dramático (LEHMANN, 2007), pós-cultural, pós-desmanche, sem falar do já
clássico “pós-história”, forjado pelo norte-americano Francis Fukuyama (1992).
Ao contrário do cantado em jingle dos anos
70 (CAMARGO, 1998), relativo a uma marca de calças jeans, que apontava para o
uso da vestimenta como sinal do ser livre e descompromissado, despretensioso e
à margem de convenções, a liberdade moderna dentro de uma sociedade de trocas
não é uma “calça azul e desbotada”.
Desalentador, pois liberdade buscamos, ou
algo que nos aproxime de sua sensação,
de um primeiro sentimento incontrolável, imenso
e imensurável.
Algo que nos acerque da “natureza indômita
da vida” (ADORNO, 2009), que também se replica na anarquia da produção de
mercadorias, em ações que, apesar da distribuição das pílulas e placebos da
arte/dança contemporânea, furem a opacidade do conhecido, e nos arrojem em
outro estado de percepção da realidade.
Criação/formação/difusão? ou do íntimo, do
particular e do público
O que move alguém para ser um artista da
dança? Algo que irá mantê- lo, apesar dos “ossos do ofício”, na mesma
carreira/trajetória: a busca de uma experiência estética, que transformará em arte.
Por experiência estética, considero o
sentido dado à expressão pelo semiótico Charles Sanders Peirce, aquilo que nos
tira do cotidiano, da mesmice, do “todo
o dia a mesma coisa”. Algo como um relâmpago, cindindo a rotina de maneira
violenta, brusca, cabal.
Uma experiência advinda de uma crise, de um
estado limite, de um êxtase, a apontar para o admirável (SANTAELLA, 1997), em
Peirce (1990), a qualidade enquanto tal, sobre o que não pesa negação,
primeiridade capaz de guiar a “ação da ética e as determinações da lógica”
(SILVA, 2006).
A experiência estética impera na vida, mas é
programa, meta a ser alcançada na arte e pela arte. É o que buscamos nas
criações artísticas, mas que podemos encontrar, com maior ou menor freqüência,
no “amor à primeira vista”, observando os olhos imensamente confiantes da filha
pequena, mirando
um pôr do sol, sofrendo dor imensurável,
ouvindo heavy metal ou uma Cello Suíte de Bach.
Artistas têm, privilegiadamente, a
possibilidade de dar acesso à experiência estética, tornando-a visível para
todos nós. Manifesta-se como “quase adivinhação”, abdução (PEIRCE, 1990),
como sensação interna,
íntima, que será origem a construções no e pelo corpo.
Em coreografia, a experiência é construída e
difundida através de um corpo-mapa de significados, mapas compartilhados entre
muitos, posto tatuados de significações
que transitam em redes conectivas de natureza e cultura.
A idéia ou uma cartografia de idéias se materializa, necessariamente, em corpo, nossa morada íntima, “aquilo que
somos e aquilo que temos” (BERNARD, 1995), podendo dele fazer uso de troca e
outros usos - venda de força de trabalho, mutilação, suicídio, etc.
A adivinhação-abdução se materializa em
corpo, ou corpos, caso se trate de coreografia coletiva, feita em
companhia/grupo e, isto se dá preferencialmente mediante metáforas corporais,
sem a intervenção da palavra oralmente concretizada em cena, que é base do modo
de operação de outra arte da cena: o teatro.
Na base da dança, a especificidade íntima
estruturada na morada-corpo torna-se pública sem a mediação de outra linguagem
que não seja aquela formada por imagens corporais. Esta é a sua especificidade,
de origem e por ela, frente a nós, torna-se público o íntimo de seus artistas.
Como o íntimo pode se tornar público?
Mediante trabalho privado, particular, de
construção realizada em sala de aula, estúdio, companhia/grupo,
geralmente inseridos na rede privada de núcleos culturais, e, mais além, no
âmbito de iniciativas familiares, remetendo- nos à história das trupes das
artes da cena.
No embate do trabalho diário, constrói-se a
possibilidade de dar forma ao
adivinhado, em experiência estética a partir de
fiat lux que se deverá, literalmente, incorporar.
Constrói-se a ética da formação, em
atividade constante de músculos contra músculos, corpo contra corpos, idéias
contra idéias (nossas dúvidas!) em que bailarinos são ferramenta e fonte de
criação e os grupos, de alunos
ou profissionais, fábricas da arte, para
utilizarmos uma das metáforas da modernidade, ou rede de informações, para
utilizarmos a grande metáfora do pós-moderno.
Grande parte da formação e a criação em
dança se dá em escolas e grupos particulares, e nestes circuitos privados de
produção ocorre a transformação do íntimo em público, que depois se dará ver
aos públicos, em espaços de difusão, notadamente, teatros.
As ações, deste momento da “cadeia produtiva
dança”, são veladas, já que, no processo de estruturação do íntimo que se
tornará público, esforços não se revelam abertamente.
O treinamento dia-após-dia, a luta corporal
interna pela superação de limites de si, estratégias heterodoxas de
sobrevivência. Tudo isto não é revelado
ao público, que conhecerá a intimidade transposta em linguagem potente e
metafórica a cada apresentação.
O que se torna público em dança? a
intimidade de um corpo que comunica conteúdo adivinhado, a partir de uma
experiência estética inaugural, de uma idéia em dança, inscrita (LOBO, NAVAS,
2008) no particular do corpo de cada um.
Nas récitas, publicizamos o que de íntimo
foi construído no particular das quatro paredes de escolas/academias e dos
estúdios de grupos/companhias.
Todavia, por mais que particular seja uma
situação dançada por um corpo específico, o bailarino carrega consigo traços
dos homens e mulheres de seu tempo, apresentando-nos um “corpo cultural”,
corpo-terrítório (NAVAS, 2008).
A adivinhação acontece a partir de
percepções/cognições (SANTAELLA,
1988) do ambiente por onde se trafega: topus
de um tempo-espaço, e, por conseguinte, topologias de uma história. Ancora-se
na memória, no que se lembra e no que se esquece (IZQUIERDO, 2004).
Isto faz de cada obra um momento
constrangedoramente íntimo e extremamente público, um tempo onde somos
devassados corporalmente por aqueles que dançam.
No palco abrem-se clareiras, ocos, fendas
onde transcorre pensamento em torno de nossos corpos, sobre o íntimo e
particular do humano e, pelo
testemunho das particularidades
apresentadas, também nos são introduzidos
mapas de um “corpo social”.
Quais os desafios?
Para além das academias e a partir do
exposto, onde intervir?
Neste momento, uma única resposta: na formação,
através da invenção ou reinvenção de
estruturas de ensino, para que a adivinhação sentida no íntimo, possa ser
abrigada em ninhos diferenciados de incubação/ gestação.
Para tanto, os poderes públicos teriam muito
a fazer.
Em primeiro lugar, propondo e investindo
(inventando) escolas públicas de ensino médio em arte/dança, como vem sendo
timidamente testado pelo Centro Paula Souza (Secretaria do Desenvolvimento,
Estado de São Paulo), através de ETECs (escolas técnicas), além de esparsas
iniciativas em CEFETS- Centros Federais de Educação Tecnológica (Ministério da
Educação), em certas cidades do país, notadamente, capitais.
Em segundo lugar, propondo (reinventado)
estratégias em companhias/grupos de dança. Tanto nas privadas, quanto nas
oficiais.
Nos grupos oficiais, na origem, estruturados
mediante a vontade do ente público em produzir arte da dança, o desafio seriam
projetos de formação conectados, de fato, com a criação dos bens culturais que
oferecem no circuito de validação/mercado.
Nas companhias particulares, estruturadas a
partir da vontade de artistas de comunicar sua experiência
estética e de fazer destas nucleações o “seu negócio”, o desafio seria a
mudança de perfil de uma “companhia
particular de dança”, estabelecendo-se outro paradigma.
No país, podemos contar nos dedos os grupos
que realmente podem ser considerados privados “puro sangue”, posto serem, em
grande proporção, subvencionados de maneira direta ou indireta por dinheiro
público (fomento
à dança, editais, prêmios, leis de renúncia
fiscal - federal, estaduais e municipais).
Recebendo subvenção para sua manutenção e/ou
produções, a eles, mediante negociação entre estado e sociedade civil, seriam
propostas contrapartidas relativas à formação em permanência de jovens
artistas.
Com isto, reinventa-se a escola de dança,
recuperando entre companhias e escolas
uma ligação que foi base da profissionalização na área, elo perdido ao longo
dos últimos 20 anos, também pela migração de alunos sem pretensões artísticas para as academias
de ginástica/fitness.
Seriam estabelecidos outros modelos das
“contrapartidas” demandadas a estes
núcleos, para além daqueles que se referem à formação de platéias ou a
intervenções em “inclusão social através da arte” (NAVAS, 2006a), o papel dos
gestores públicos alargando-se da gerência da dotação de meios financeiros em
direção à proposição de outros modelos de mediação entre sociedade civil e estado.
Para os dois tipos de ação - escolas
técnicas públicas e companhias públicas e subsidiadas com função acoplada de
escola artística – também acorreriam os jovens oriundos de programas
sócio-culturais onde a dança ocupa
crescente e justo espaço.
A partir das metas de inclusão destes
programas sob responsabilidade direta
do estado, como Pontos de Cultura (Ministério da Cultura), Fábricas de Cultura (Secretaria de Estado da Cultura,
SP) e Dança Vocacional (Secretaria Municipal
de Cultura, São Paulo), ou pela gestão de ONGs de todos o país, não se estabelecem propostas de
profissionalização tout court, o que reforçaria o papel das escolas técnicas e companhias-escolas enquanto
estruturas em que
possam aportar talentos garimpados, incentivando-se vocações em dança.
Estas vocações poderiam concretizar carreiras artísticas de variados matizes, além da possibilidade de seu abrigo no crescente número
de graduações específicas,
organizando-se trajetos construídos por diversidade e ética em embates justos,e não pelas costumeiras lutas predatórias
do setor que subdividem em partes
pequenas aquilo que poderia ser o todo profissional da
dança.
Texto publicado no volume 3, Seminários de Dança, 2010, Ed. Festival de Dança de Joinville, Joinville, Santa Catarina
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