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Mostrando postagens de junho, 2020

Dança no Brasil, entre-culturas

Dança no Brasil, entre-culturas, no "DANÇA, HISTÓRIA, ENSINO E PESQUISA" A arte emoldura um fragmento do caos para formar um caos composto que se torna então sensível. Gilles Deleuze e Félix Guatarri Qu ́est que c ́est la philosophie? Em primeiro lugar gostaria de agradecer a todos que tornaram possível este Seminário, aos Secretários de Estado da Cultura José Roberto Sadek e Lúcia Camargo, a Luís Sobral (diretor da APAA- Associação Paulista de Amigos da Arte), David Linhares (Bienal Internacional de Dança do Ceará), João Carlos Couto, Janjão Arnaldo Siqueira (Cumplicidades, Recife) e as instituições Secretaria de Estado da Cultura (São Paulo), Programa de Pós-Graduação de Artes da Cena /UNICAMP e UFC- Universidade Federal do Ceará, IF- Instituto Francês/FranceDanse Brésil 2016 e o Consulado Geral Francês em São Paulo. Em segundo lugar, aviso importante: as ideias que apresentarei agora são resultado de muito tempo de pesquisa, textos escritos sobre elas em cotejo, ou inspira

Tudo é mistura?

Loie Fuller (litogravura, 1893) Obras de dança são compostas de conteúdos plurais, comunicados pela transmissão de metáforas  Corporais, em diferentes performances. Desde sempre produto de misturas, a discussão sobre sua estrutura, estudo e fruição híbridos (mestiços, miscigenados) alarga-se no pós-moderno das artes, constituindo bases para um debate contemporâneo que toma o espaço anteriormente ocupado pela constatação da “diversidade entre diferentes” (NAVAS, 1999). Tratei do tema em pesquisa de doutorado, parte dele publicado em “Dança e Mundialização da Cultura, políticas culturais no eixo Brasil-França”, apontando para discursos sobre a “diversidade” como portadores da pátina da “camuflagem”. Sob eles, obras restam escondidas na embalagem sedutora do diverso. Como no problematizado em artigo sobre a Aquarela do Brasil, bienal de dança temática sobre o Brasil, realizada em Lyon/França (1998). No texto, assinado no suíço Le Nouveau Quotidien, por Marie-Christine Vernay, à época crít

Memórias-corpo, corpo-território e dança-mídia

O que a dança tem a dizer? live do ciclo "Boca no trombone", maio 2020 Este texto começa por uma indagação a partir do tema que serviu de eixo do VI Colóquio Internacional de Etnocenologia - A voz do corpo, o corpo da voz: artes e ciências do espetáculo. As indagações: qual corpo e qual voz? Depois delas, uma questão. Qual corpo? Corpo de bailarinos, que são o primeiro território da dança, sendo a coreografia – discurso a se desenvolver no espaço, o segundo território deste campo estético. Qual voz? Na coreografia, a dança é voz, para nós ecoando – público à frente desta poderosa mídia presencial, prioritária e irredutivelmente, construída por metáforas corporais e não pela voz que estabelece poiesis mediante palavras. A questão? Melhor seria dizer questões: o que a dança tem a dizer? Como diz? E para quem? Quando realizei pós-doutorado na ECA/USP (2000-2002), após concluir doutorado (Comunicação/Semiótica/PUC/SP), as perguntas que subjaziam ao seu tema poderiam ser estas

Dança e mundialização: políticas de cultura no eixo Brasil-França

Dança e mundialização: políticas de cultura no eixo Brasil-França, de Cássia Navas Resumo/ livro Na França, ao longo da década de 80, uma política cultural para a dança foi construída - um novo território- , dentro do qual as iniciativas que apoiam a dança contemporânea foram majoritárias, ainda que o universo do balé não ficasse excluído das estratégias socialistas do tout chorégraphique (o todo da dança).  No novo território, remodelam-se os festivais de cunho internacional, como a bienal de dança de Lyon, que, em 1996, apresenta uma edição brasileira: a Aquarela do Brasil. Por que o Brasil? Dentro da segunda etapa das bienais, o país foi escolhido como um tema latino, num evento em que as escolhas do curador Guy Darmet são apresentadas como o “ todo da dança do Brasil”. Inserindo-se no debate do pós-moderno, as biennales de Lyon dão voz a seus topos latinos, assim considerados porque localizados fora dos eixos culturais da dança ocidental, ainda que esta se modifique num mundo cada

Brasil, brasilidades

Revue Noire: “Brésil, Brazil, Afro-Brasileiro”, 1992 O que é dança brasileira? Ao se responder a essa provocativa questão deve-se evitar a armadilha ontológica que ela apresenta e revidar-se o desafio com outra pergunta: como é a dança brasileira? A partir dai, e através de muitas outras provocações correlatas (onde está a dança brasileira, porque dança brasileira, etc ...) teríamos que nos lançar numa primeira empreitada: mapear-se os históricos ou esparsos documentos e publicações que tratem do assunto, para depois, munidos de ouvidos multidisciplinares escutar as pesquisas e experiências em curso. No limite, teríamos mesmo que nos perguntar sobre a necessidade de um esforço desse porte, em primeiro lugar, pela escassez quase absoluta de recursos para a dança. Por outro lado, esse questionamento não se deveria exclusivamente à penúria reinante, mas à pertinência do tema, dentro de nosso universo profissional. Para lá dessas considerações, em 1996, a Biennale de Danse de Lyon, que tem