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Mostrando postagens de março, 2020

Dança brasileira, no final do século XX

Dança brasileira em Lyon França: estudo de uma bienal verde-e-amarela, tese doutorado Cássia Navas Quando se fala de dança no Brasil, vale a pena lançar certos apontamentos sobre o assunto, direcionados a reflexões que se estabeleçam para além da diversidade e do pluralismo, características sobre as quais quase todos estamos de acordo, seja quando as utilizamos para adjetivar as danças que aqui se fazem - dança brasileira diversa, plural e múltipla -, seja para, de chofre, encerrar as discussões a respeito. Se tudo é imensamente múltiplo, parece bastar a consciência dessa multiplicidade para se aquietarem as discussões, paralisando-se a indicação dos diferentes, com o conseqüente eclipse das relações políticas e estéticas que estes diferentes, todos eles mergulhados num mesmo panorama histórico, estabelecem entre si. Dentre muitas variantes, poderíamos tratar a “dança brasileira”, em especial a do   século XX, discorrendo sobre uma tríade de expressões, que, analisadas, po

Leis para as danças do Brasil, desafio para todos

Meu Prazer, Márcia Milhazes, RJ Quem entrasse no ginásio de esportes que durante 15 anos abrigou o Festival de Dança de Joinville, em Santa Catarina, se não fosse avisado de que presenciava um evento das artes cênicas, poderia, facilmente, achar que se encontrava em um certame competitivo de algum esporte famoso, tal era a gritaria das torcidas que lotavam as arquibancadas e o auditório em que se transformara a quadra poliesportiva do local. Mesmo para aqueles que sabiam do que se tratava – um festival de dança onde grupos e escolas de natureza diversa apresentam peças diferenciadas –, era difícil aceitar que aquela gritaria seria atitude de uma platéia de dança, ainda que a mesma fosse basicamente composta de jovens entusiastas, basicamente estudantes, compondo-se, portanto, de um público literalmente em formação, que paradoxalmente era convidado a apreciar apenas peças de curtíssima duração, estabelecendo-se uma certa estética de videoclip, em patchworks dançantes muito di

A arte da dança na universidade pública contemporânea.

Fachada Instituo de Artes / Unicamp A maior parte da formação em dança no Brasil está sob a tutela de uma rede informal e privada, o que resulta em um sistema de ensino pelo qual se fazem necessários os ônus de custos arcados individualmente e aquele ligado à ausência, quase generalizada, de certificados ou títulos oficiais de profissionalização. Tais condições de ensino e aprendizado dificultam o acesso à formação em dança, sobretudo no que toca a pessoas pertencentes a camadas sociais economicamente menos favorecidas. Ainda que escassas, existem bolsas de apoio, que incentivam o estudo informal, a pesquisa e a criação, além das “leis de incentivo” e subvenção direta, pelas quais são viabilizadas verbas para a montagem de espetáculos, pagamento de salas de ensaio, manutenção de elencos, turnês, festivais e mostras. Todavia, estes recursos não se dirigem aos processos de formação em si. Apesar disto, o Brasil é reconhecido pela qualidade de sua dança, de seus intérpretes e

Do íntimo, do particular e do público: subsídios para a gestão em dança

Dança Frente-e-Verso (Inside Out), Mousonturm, Alemanha Como se estabelecem os fluxos entre a invenção, a criação, a produção e a difusão em dança, na articulação de diversas atividades profissionais? De onde surgem as "idéias da dança" e como elas logram chegar – como metáforas corporais-, frente às várias audiências contemporâneas. Como se inventa um bailarino? E como surge uma vocação em dança? Ao se ver alguém dançando na TV? Durante o carnaval? Vendo um homem que salta estampado em pôster de academia de dança, vislumbrado pela janela? Ou ainda na forma de uma quase revelação, expressa em frases como: “Quero ser esta moça que dança!” ou “Quero ser esta passista de frevo que acabo de ver na TV!”. Neste momento, estabelece-se uma empatia tão grande, que aponta para o “querer ser” uma bailarina de frevo, mas, para além disto, querer ser o frevo, querer ser a dança em si. O que torna uma bailarina e dança uma mesma coisa, um mesmo ente à frente de quem acaba