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Dança e mundialização: políticas de cultura no eixo Brasil-França

Dança e mundialização: políticas de cultura no eixo Brasil-França, de Cássia Navas
Resumo/ livro
Na França, ao longo da década de 80, uma política cultural para a dança foi construída - um novo território- , dentro do qual as iniciativas que apoiam a dança contemporânea foram majoritárias, ainda que o universo do balé não ficasse excluído das estratégias socialistas do tout chorégraphique (o todo da dança). 
No novo território, remodelam-se os festivais de cunho internacional, como a bienal de dança de Lyon, que, em 1996, apresenta uma edição brasileira: a Aquarela do Brasil.
Por que o Brasil? Dentro da segunda etapa das bienais, o país foi escolhido como um tema latino, num evento em que as escolhas do curador Guy Darmet são apresentadas como o “ todo da dança do Brasil”.
Inserindo-se no debate do pós-moderno, as biennales de Lyon dão voz a seus topos latinos, assim considerados porque localizados fora dos eixos culturais da dança ocidental, ainda que esta se modifique num mundo cada vez mais globalizado.
Com a latinidad, a bienal assumiria um perfil apropriado aos novos rumos da política cultural francesa, onde as estratégias em relação à dança contemporânea se relativizam frente a outras prioridades, dentre elas, as ações que privilegiam o trabalho com diferentes registros do popular.
No plateau (palco) de Lyon, as atrações brasileiras de Aquarela se expõem em colagem paratáxica, verde-e-amarelamente hifenadas num mesmo bloco, envolto em brilhante papel laminado, um invólucro: o discurso repetitivo sobre a variedade das atrações.
Pós-modernamente, esse invólucro ocultou as especificidades de cada obra e criador, encobrindo o conteúdo do pacote que envolvia. Atuou como um anteparo, uma barreira que devia ser ultrapassada, caso o intuito fosse o de se estabelecer reflexões mais cuidadosas, históricas e críticas, sobre as “danças-do-Brasil-que-em-Lyon-estiveram”.
A forma paratáxica, pela qual se apresenta a programação das bienais é também característica de uma política do portfolio (jeu du catalogue), pelo qual áreas artísticas são justapostas umas às outras, bipolarizando-se as relações entre produtores e atores culturais, em detrimento de associações horizontais entre os últimos.
Portadores de uma hífen-nacionalidade (um passaporte) os artistas/atores da cultura de Aquarela se viram num interessante jogo de espelhos, pois se, dum lado, “todos eram brasileiros”, também os distinguiam as suas dessemelhanças, posto que legítimos representantes de discursos artísticos, políticos e culturais de diversas naturezas e grandezas, ancorados em experiências diferentes.
A dubiedade dessa situação, que borra as diferenças entre diferentes, durante um curto período de convivência num espaço relativamente pequeno (alguns teatros e hotéis de Lyon e do grande Lyon), estabeleceu um rito de passagem.

Publicado em 1999, São Paulo Hucitec/FAPESP, 1999, ISBN 85-2710496-2

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